Ateísmo


Michael Martin

Ateísmo é a negação ou a falta da crença na existência de deus(es). O termo ateísmo vem do prefixo grego “a-”, significando “ausência”, e da palavra grega theos, significando “divindade”. 
O ateísmo possui uma vasta quantidade de implicações à condição humana. Com a ausência da crença num deus, as questões éticas devem ser determinadas em função dos objetivos e preocupações humanas, cabendo a nós assumir responsabilidade total pelo nosso destino. A morte, nessa visão, marca o fim da existência de um indivíduo.
 

O Escopo do Ateísmo

 

Em tempos antigos, pessoas utilizavam ocasionalmente a palavra “ateísmo” como uma ofensa às posições religiosas de seus opositores. Os primeiros cristãos eram chamados de ateus porque negavam a existência das divindades romanas. Ao longo do tempo muitos mal-entendidos surgiram: que os ateus são imorais, que a moralidade não pode ser justificada sem a crença em um deus, que a vida não tem sentido sem um criador. 

Apesar dessa visão ser bastante difundida, não há evidências de que ateus são menos morais que os teístas. Muitos sistemas morais foram criados sem pressupor a existência de um ser sobrenatural. O “sentido” da vida humana pode basear-se em objetivos terrenos, como melhoria da humanidade. 

Na sociedade ocidental o termo ateísmo foi utilizado mais especificamente para designar a negação do teísmo, particularmente o judaico-cristão.  O teísmo, entretanto, não é um componente de todas as religiões. Algumas rejeitam o teísmo, mas não são inteiramente ateias. Apesar do Bhagavad-Gita — escritos sagrados do hinduísmo — ser totalmente fundamentado em tradições teísticas, escritos hindus mais antigos — conhecidos como os Upanishads — ensinam que o Brahman (a realidade última) é algo impessoal. O ateísmo “ativo” rejeita até os aspectos panteístas do hinduísmo, que igualam Deus ao Universo. Várias outras religiões orientais, incluindo o budismo theravada e o jainismo, são comumente vistas como crenças ateísticas, mas essa interpretação, a rigor, não é correta. Tais religiões rejeitam a ideia de um Deus criador do Universo como defendido pelo teísmo, mas admitem numerosos outros deuses inferiores. Na melhor das hipóteses, só podem ser consideradas “ateísticas” no sentido de que não aceitam o teísmo.
 

História

 

No mundo intelectual do Ocidente o fenômeno da difusão da descrença em Deus possui uma longa e distinta história. Filósofos da antiguidade, como Lucrécio, eram descrentes. Mesmo na Idade Média (do V ao XV século) havia correntes de pensamento que questionavam as assunções teístas, incluindo o ceticismo — doutrina que alega a impossibilidade de se alcançar o “verdadeiro conhecimento” — e o naturalismo — crença de que apenas forças naturais governam o mundo. Vários pensadores iluministas (1700-1789) eram ateus militantes, incluindo o escritor dinamarquês Baron Holbach e o enciclopedista francês Denis Diderot. Expressões de descrença são também encontradas em clássicos da literatura ocidental, incluindo os escritos de poetas ingleses como Percy Shelley e Lord Byron; do novelista inglês Thomas Hardy; de filósofos franceses como Voltaire e Jean-Paul Sartre; do autor russo Ivan Turgenev e de escritores americanos como Mark Twain e Upton Sinclair. Os ateus e críticos de religião mais articulados e conhecidos do século XIX são os filósofos alemães Ludwig Feuerbach, Karl Marx, Arthur Schopenhauer e Friedrich Nietzsche. O filósofo britânico Bertrand Russel, o psicanalista austríaco Sigmund Freud e Sartre estão entre os ateus mais influentes do século XX.

 

A Diversidade no Ateísmo

 

Ateísmo é, primariamente, uma “reação à” ou uma “rejeição da” crença religiosa, e portanto não é possível determinar quaisquer outros pontos de vista filosóficos a partir dele. O ateísmo, às vezes, é associado às correntes filosóficas materialistas, as quais defendem que apenas a matéria existe; com o comunismo, o qual afirma que a religião impede o progresso da humanidade; e com o racionalismo, que coloca a razão acima de outros métodos de investigação. 

Entretanto, não há qualquer conexão necessária entre o ateísmo e tais posições filosóficas. Alguns ateus opuseram-se ao comunismo, outros rejeitaram o materialismo. Apesar de praticamente todos os materialistas contemporâneos serem ateus, Epicuro — um materialista grego da Antiguidade — acreditava que os deuses eram feitos de matéria na forma de átomos. Racionalistas como o filósofo francês René Descartes acreditavam em Deus, enquanto Sartre não pode ser considerado um racionalista. O ateísmo foi associado a sistemas de pensamento que rejeitam autoridades, como o anarquismo — teoria política que se opõe a qualquer tipo de governo — e o existencialismo — movimento filosófico que enfatiza absoluta liberdade de escolha que os humanos possuem; também não há, contudo, qualquer relação necessária entre tais posições e o ateísmo. 

O filósofo britânico A. J. Ayer era um ateu que se opunha ao existencialismo; o filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard, por sua vez, era um existencialista que aceitava Deus. Marx era um ateu que rejeitava o anarquismo, enquanto que o novelista Leo Tolstoy, um cristão, adotava o anarquismo. Devido ao ateísmo, estritamente falando, consistir meramente numa negação, ele não pode, por si próprio, proporcionar uma cosmovisão ao indivíduo; logo, é impossível deduzir quais outras concepções filosóficas serão adotadas.

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