A muralha da peste

Andre Brink


"Como nas ocasiões anteriores, mas agora com uma outra disposição de espírito, estudei seu corpo em movimento. Os músculos sob a camiseta, os grandes ombros, os tendões das costas, os bíceps relaxados, a contração das nádegas enquanto as pernas pareciam se mexer sem o mínimo esforço. Um andar manso, lânguido, felino. Impossível negar sua presença. Havia algo de inexoravelmente verdadeiro nele enquanto caminhava pela praça."

A muralha da peste

Por Priscila Yukimi



Andre Brink


"Por entre as folhas vê o tremendo azul do céu, em azul tão inflexível que traz lágrimas a seus olhos, tão violento que faz suas vísceras queimarem. É um instante tão nu que ela sabe que levará a vida inteira para fazer uma trégua com ele. Um desejo de fome, uma sede implacável, uma chama, uma alegria, uma tristeza tão insuportável que ela fecha as mãos com força, sentindo as unhas afundarem nas palmas. Por causa daquele azul. Porque não há fim para ele."

A muralha da peste

Andre Brink


"Um dia, quem sabe ainda nessa época, todos os mortos levantariam da terra dura, vermelha de seu sangue, erguendo-se com os aloés florescendo no inverno, e voltariam para aquela guerra.

- Alguma coisa vai acontecer. Tem de acontecer. Tudo isso não pode ter sido em vão. A queimação interna, o sofrimento, o sangue. Só se consegue suportar quando se acredita que é o preço para termos um mundo melhor. Todas as vítimas. Homens, mulheres, crianças. Um dia tudo precisará fazer sentido. E fará."

O médico e o monstro

“Tudo tem um fim. Por maior que seja a medida, ela acaba, um dia, por se encher. Essa concessão acabou destruindo meu equilíbrio. Afinal, eu pensava, não sou diferente das demais pessoas. E eu sorria me comparando com os outros homens, comparando minha boa vontade ativa com a crueldade negligente deles.”




 
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