Robert A. Wallace
Primeiro, pessoas se tornam reflexamente irracionais na defesa de suas vacas sagradas; mas, ainda mais importante, fiquei sabendo (pelas poucas respostas racionais apresentadas) que altruísmo tem limites e graus. Comecei também a suspeitar que, quando alguma coisa dói, a pessoa deseja que doa em seu melhor interesse.
Nós nos sentimos compelidos a ajudar outra pessoa, não por termos usado a aritmética para ver se seremos beneficiados, mas por sentimentos de simpatia. Nós somos tão vulneráveis às sugestões, que simpatia pode ser evocada mesmo em situações nas quais não existe a menor possibilidade de recompensa (como vemos nas fisionomias dos visitantes do museu Dachau, da Alemanha). Mas cumpre-nos, apesar disso, conservá-la em nosso repertório comportamental.
Gratidão é o sentimento que nos leva a expressar nossos agradecimentos, e ela aumenta a probabilidade de sermos ajudados de novo (“Ele nem sequer disse obrigado. Você acha que vou ajudá-lo outra vez?”) Convencimento da própria virtude é um pouco mais difícil de definir, mas poderia ser descrito como aquele glorioso sentimento que temos quando sabemos, talvez demais, que nos comportamos de acordo com as regras. (Martírio pode resultar naquele sentimento igualmente esplêndido que temos, por saber que nos comportamos de maneira apropriada, mesmo sem perspectiva imediata de sermos recompensados. Mártires podem estar dispostos a adiar o pagamento para a outra vida.) Finalmente, chegamos àquele grande manto cinzento da culpa.
Ah, a culpa! Culpa causa-nos sofrimento, mas na realidade atua para vantagem nossa: Quando nos comportamos de maneira socialmente irresponsável, sem que outros notem e nos punam, nós punimos a nós mesmos. Nós nos sentimos mal. Decidimos ser melhores na vez seguinte. Sob o incentivo da culpa, tendemos a corrigir comportamento socialmente inaceitável e substituir nossas ações misantrópicas por boas ações, que outros poderão então ver e pelas quais nos recompensarão. Podemos até mesmo nos comportar altruisticamente quando ninguém está observando, de modo a alimentar o convencimento de nossa própria virtude e eliminar quaisquer traços de culpa potencial.
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