Beleza é fundamental

Caetano Ernesto Plastino


 
O que é uma explicação científica? Que tipo de compreensão do mundo ela nos traz? Podemos dizer, em muitos casos, que uma explicação consiste em uma resposta à questão “por quê?”. No caso da explicação científica, essa resposta baseia-se no conhecimento científico disponível.
De um lado, considera-se que a explicação se dá mediante a identificação das causas ou a descoberta dos mecanismos subjacentes pelos quais a natureza opera e que resultam nos fenômenos que tencionamos compreender. De outro lado, entende-se que a unificação é um objetivo central da explicação científica. Compreende-se melhor o mundo quando as explicações dizem respeito à sua estrutura, quando se mostra que situações aparentemente diversas podem ser sistematizadas e subsumidas sob um pequeno número de princípios independentes. Importa, no caso, o caráter global da explicação.
Assim, uma vez descobertas algumas leis gerais da natureza, podemos tentar explicá-las, mostrando que elas são deduzidas a partir de outros princípios mais fundamentais. No limite, podemos perguntar, como faz Steven Weinberg, se há um ponto para o qual todas as explicações científicas convergem, ou seja, se há uma teoria final unificada, cujos princípios não podem ser explicados por outros mais fundamentais.
Em “Sonhos de uma Teoria Final” (Rocco), Weinberg sugere que, embora a ciência contemporânea seja incompleta e tenha validade limitada, talvez não se encontre tão distante de uma teoria final.

A beleza de nossas teorias científicas, a simplicidade de suas ideias e as simetrias das equações despertam em nós o sentimento da inevitabilidade e nos fazem crer que estamos indo na direção certa. Nosso juízo estético “é parte do que entendemos por uma explicação”.
Weinberg compromete-se então com uma forma de reducionismo, uma ordem da natureza. E não se trata apenas de um programa de pesquisa científica. É uma atitude diante da própria natureza. Por exemplo, a química pode ser explicada com base na física — muito embora os físicos não consigam, com suas leis, explicar as propriedades de moléculas muito complicadas —, pois o que importa é que “não há princípios autônomos da química que sejam verdades independentes, que não assentem em princípios mais profundos da física”.
A redução não significa, portanto, que todos os fenômenos químicos sejam inteiramente explicados pela física, ou que os químicos devam substituir seus procedimentos ou sua linguagem. Mesmo que descobríssemos os princípios fundamentais de tudo, eles pouco auxiliariam na compreensão de certos “fenômenos maravilhosos, desde a turbulência até o pensamento”.

Além disso, é preciso levar em conta que a explicação tem uma dimensão pragmática, que a torna dependente do contexto e dos interesses envolvidos. A simples pergunta “Por que ocorreu tal acidente de automóvel?” admite várias respostas. Podemos tomar como fator proeminente o estado do motorista, a condição do veículo, a conservação da pista ou o clima. Mas não há uma fórmula geral que permita distinguir a melhor resposta.

Notamos que na vida diária é comum dar explicações em termos de nossos propósitos. Fulano explica por que foi ao supermercado referindo-se às lâmpadas que lá tencionava comprar. Todavia essas explicações teleológicas, que se referem a fins, aplicam-se também a domínios como a cosmologia? Segundo o “princípio antrópico”, as leis da natureza devem ser tais que permitam a nossa existência. Somente sob certas condições favoráveis a vida inteligente pôde surgir e isso está ligado à estrutura básica do Universo. Mas daí não se deve concluir, adverte Weinberg, que nos tornamos protagonistas em um grande drama cósmico. A explicação científica não é substituto para o consolo da religião.
 

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